segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Décimo ato: Navegando num mar de névoas

Antes de explicar o meu sumiço, eu devo explicar o que me levou a sumir.

Eu havia conhecido um cara. Ele ficou fazendo charme pra mim por muito tempo, queria ir pra cama comigo, fazia mil e uma propostas. Até que um dia eu aceitei. Sexo fácil, ele tinha cara de gostosinho bom de cama, eu tava com o corpo implorando por sexo, uma coisa leva a outra e eu não sou dos que tem muitos pudores.

Fui ao seu apartamento, tomei banho com a porta aberta para que ele pudesse ver meu corpo nu, a água escorrendo pelas minhas tatuagens. Me enrolei na toalha e sai, cheguei aos seus pés na cama e disse: “Preciso continuar com a toalha?”. Ele então a tirou da minha cintura, me jogou na cama e me comeu socando tanto seu pau em meu cu que a cada porrada eu sentia suas bolas batendo na porta do meu rabinho e meu grito ecoava pelas paredes junto ao gemido dele como um lobo no cio acompanhando o ritmo.

E foi após gozar que começou um momento de puro terror na minha vida.

Alguém bateu na porta. Ele mandou eu me esconder. Eu não entendi nada. Eu fiquei nu debaixo da cama. A porta foi aberta. Quem entrou me viu. E eu fui socado, chutado e ameaçado com uma faca enquanto minha testa sangrava.

Sim, era o marido dele. Não, eu não sabia que ele era casado.

E eu fugi, corri nu pelos corredores do prédio, com minha bermuda em mãos. Fui para o meu carro, dei a partida e parti sem olhar pra trás.

Quando eu cheguei no meu apartamento, fui direto para o meu quarto, enchi a banheira, desliguei a luz e fiquei lá, chorando por pelo menos duas horas, em choque. Quando eu consegui sair, me olhei no espelho, limpei meu corte na sobrancelha, coloquei um band aid, uma camiseta e fui para o meu quarto pegar um moleton. Foi quando eu dei de cara com meu moleton Herchcovitch que eu parei, vi que tudo na minha vida estava uma merda e que eu não poderia conviver com aquilo.

Arrumei minha bolsa e em 20 minutos estava saindo de casa deixando um único bilhete na porta da geladeira para meu pai e irmão, o primeiro que chegasse.

“Fui para São Paulo. Não sei quando eu volto.”

Sim, eu fugi.

O que se sucede é uma série de rápidos acontecimentos. Eu indo para o aeroporto, conseguindo uma passagem no primeiro vôo disponível, ligando para uma grande amiga paulista dos tempos de faculdade incompleta pedindo abrigo, meu pai me ligando desesperado e tentando me impedir a todo custo, meu irmão me ligando em seguida e brigando comigo imensamente além de me chamar de louco, embarque imediato, portas em automático e eu deixando minha cidade e indo para onde eu pudesse me sentir bem. Sampa!

No avião acabo adormecendo um pouco. Quando acordo, dou de cara com o mar logo abaixo e suas ondas pequenas perto do litoral de Santos. Ver o mar e não poder fazer parte dele. Vocês podem não compreender, mas é uma sensação horrível, a sensação de falta de liberdade. Chorei novamente.

E então por um lapso, eu levantei a minha cabeça. Por que infernos eu estava sofrendo tanto? Caralho, eu sempre tive o mundo e tudo o que eu quis aos meus pés. Por que infernos eu estava me deixando abater por aquela agressão, por que eu estava me deixando cair num ato de tamanha covardia? E foi então que eu me senti como eu sempre me senti de novo, como se nada fosse impossível pra mim.

O avião pousou em Congonhas. Na porta do aeronave eu perguntei a aeromoça onde havia um lixeiro, ela me indicou. Tirei meu band aid da testa e joguei fora. No saguão do aeroporto, enquanto procurava meus óculos de sol na mochila, dei de cara com Kayla, minha amiga.

“O que aconteceu com sua testa?”

Achei meu óculos finalmente e o coloquei no rosto, abrindo um sorriso maravilhoso de alivio.

“Nada, coisas de um idiota que eu preciso destruir.”

“Idiota? Destruir? Do que diabos você esta falando, Jacinto? Primeiro me liga mal daquele jeito e agora tá ai como se nada tivesse acontecido. Sabe como eu fiquei preocupada? Quem foi que fez isso na sua testa?”

“Ah, o nome dele é Renato, e eu já disse, relaxa, eu vou destruir ele”, acendi um Marlboro Light do lado de fora já, “Mas agora que eu estou em São Paulo, vamos nos divertir um pouco. E acima de tudo, eu preciso ver o mar antes de voltar”.

PS: eu ainda estou em Sampa. Devo me alongar por um tempo aqui ainda.