quinta-feira, 15 de abril de 2010

Nono ato: entenda, eu não quis te ver voar

“Se você prefere procurar drogas a noite toda, faça bom proveito, eu estou indo embora”

Eu virei as costas, bêbado, tinha enchido ate o rabo de tequila, as chaves do meu carro balançando na minha mão. Ele segura a minha mão, bêbado também, e me vira.

“Venha comigo para a Bolívia amanhã. Eu sei que você pode”

Eu deixo a resposta clara nos meus olhos, mas a boca se movimenta sozinha.

“Depois de hoje, eu sinto muito. Não conseguirei mais olhar pra você e me sentir eu mesmo. A...” eu vacilo, “Adeus”

E foi assim que eu o vi pela última vez.

Eu dirijo e mesmo extremamente embriagado faço um caminho perfeito ate o meu prédio. Porém, destruo metade da minha garagem. E depois que o susto passa, fico lá, dentro do carro amassado, sozinho, no escuro, chorando.

Eu não estava nem pensando em ir pra cama. Eu queria ter pego um taxi, voltado praquela balada, agarrado ele pelo braço e gritado pra que qualquer um ouvisse.

“Será que você não entende? Eu estou apaixonado por você. Não vai embora, por favor.”

Mas ele foi. Ele e seus lindos olhos verdes, sua barba por fazer, seu cabelo sempre bagunçado e despenteado, sua pele alva, seus doces lábios avermelhados.

E ele tinha aquele poder absurdo de me fazer eu não me sentir eu mesmo. Durante uma semana que estivemos juntos, eu o pegava a noite, íamos para cidades vizinhas passar a noite, pegamos ate mesmo um vôo para Floripa e voltamos no mesmo dia. Queimavamos dinheiro. Eu não queria ele na minha cidade, cercado das pessoas que me conheciam, vítima do olhar de intrigas e questionamentos que me lançavam.

Eu poderia amá-lo. Longe do resto. Ele passava a mão pelo meu corpo nu e sussurrava:

“Meu Deus, você é lindo”

Ele me deitava sobre seu peito e acariciava meus mamilos, enquanto eu bagunçava ainda mais os seus cabelos.

Ele acordava no meio da madrugada. Não percebia que eu estava acordado também. Virava de costas, pegava a minha mão, me puxava e colocava meu braço por cima do seu corpo. Ai ele acordava e dizia:

“Nossa, porque você está encima de mim?”

E eu ria

“Foi porque você me puxou”

Ele era encatador, sabia disso, e usava muito bem.

Estava a trabalho. E tinha o poder de seduzir qualquer um. Qualquer um! Todos o amavam instantaneamente ao momento que lhe trocavam palavras. Todos queriam ele por perto. E só Deus sabe a sorte que eu tive de lhe ser apresentado, pois ele estava envolvido por uma conversa chata, com uma pessoa chata, por muitas vezes eu levantei de sua mesa, mas voltava, pois ele já havia me conquistado, e sem nunca entender porque, eu havia conquistado ele.

“Esta vendo aquelas meninas no balcão? Elas deram encima de mim. E aquele garoto alto, forte, também”

Eu me intriguei

“E por que não ficastes com eles?”

“Porque eu apontei você para eles e disse, ‘esta vendo aquele garoto ali? Ele é meu namorado’”

E riu lindamente, cinicamente, e eu o beijei pela primeira vez.

Ficaria apenas uma semana. A trabalho. Viajava o país inteiro. Era a cidade numero 217 que ele estava. Mesmo sendo a primeira vez na minha, o que me surpreendera. E ele só dava atenção a mim.

E lembro quando chegamos em seu hotel. De madrugada. Vazio. Ele caiu na piscina e eu fiquei na beira, só olhando-o, ambos bêbados, mas completamente lúcidos. Ele riu, eu ri, e pedi um beijo. O som do corpo dele se movimentando na água vagarosamente era a única coisa que trilhava nosso momento, e com lábios gelados ele tocou mais uma vez os meus.

Mas ele é um pássaro livre. Um brilho que nunca seria igual dentro de uma gaiola. E claro, tinha o problema com as drogas. Mas e daí? Eu também uso. As drogas eram só uma desculpa. Para terminar tudo mais cedo. Para que acima de tudo, eu não visse aquele pássaro batendo suas asas douradas e cruzando o céu enquanto eu sempre estaria ali, dentro do mar.

“Um pássaro e um peixe podem se apaixonar, mas aonde eles iriam se amar?”

E por um raro momento, em toda a minha vida, eu quis ter asas.

14 comentários:

Bruno Etílico disse...

É... não há idiotas aí. :)

Estava com saudade dos seus posts já. achei que tivesse abandonado
mto bonito

besoos

Gueixa disse...

Adorei...Que sensivel...
Ai que droga é a vida!!!!!
Nos presenteia com coisas tão belas para tirá-las de nós em seguida....
Voce contou minha história viu moço?
Lindo.
bj

Bruno disse...

Isso foi a coisa mais linda e genial que li nos ultimos tempos.
Me fez lembrar de quando eu era vivo e tinha um coração.

glass disse...

nossa isso foi lindo , mais infelizmente não se pode segurar o vento so se pode esperar que ele volte .quem sabe um dia ,e nunca se esqueça drogas deixam broxa :)

stefano disse...

DELICINHA DE POST.
ACHO Q ASSISTÍ A ESSES MOMENTOS!

Arsênico disse...

Ai que história linda! E triste... Mas e daí amore? Já se passou alguns dias... exatamente 1 mês... como está você agora? Porque sumistes?

Apareça!

***

umBeijo!

xD

Alex&Elisa disse...

Lindo...

CAIN SODOM disse...

Afe, cadê a prostituta de plantão? Assustei, mas a história é lindinha! Envy!

Bruno Etílico disse...

Rapazzz, vai no meu blog dps e olha uma besteirinha que eu fiz pra você lá
;)

bjão

Helena C. disse...

Esse é o post mais bonito que eu já li.

Kaka disse...

1° vez que passo por aqui e me deparei com uma história tão linda e tão real. POrque é isso que acontece...quando achamos algo que realmente nos valha a pena, isso é arrancado de nós tão rápido que não dá tempo nem de se despedir.
Tá de parabéns pelo lindo texto.

beijoss

Átila Goyaz disse...

Muito lindo!

Pimenta disse...

Ai,ai, caí aqui, nem sei de onde mais, depois dessa história,coisa lindadedeus!
Não posso dizer, que triste, vou me rasgar chorando, mas fui conduzida a uma refelexão sentida,bem doidinha lá nas profundas da alma.
Doze!
bjo

Anônimo disse...

Muito bom ler isso!
Ganhar asas é do melhor que tem...

:)